sábado, 4 de agosto de 2012

Escrevendo, escutando e esperando: o livro e o luto.


Nome denso para momento triste. Nem sei bem se é um bom nome. Mas assim está o tempo por aqui. Tempo de luto. Não completamente meu. O luto é seu e de sua família.

Foi um domingo longo assim como vinham sendo os anos de doença de seu pai. Domingo de céu azul e coração cinza.

Assim que recebi seu telefonema, corri ao banheiro, prendi os cabelos que não iria lavar e hidratar como sempre faço aos domingos. Entrei no carro com uma taquicardia psicológica, daquelas que a gente tem quando presente que alguma coisa ruim está acontecendo. E fui!

No caminho pensei nas praticidades para a semana seguinte. Apesar de dizer e repetir o tempo todo que sou uma pessoa desorganizada e muitas vezes incapaz de gerir as coisas eu sempre penso em como deixar tudo em ordem. Sim, sim meu amor, você sempre diz essas coisas. E eu sempre fico triste. E eu sempre te digo que fico triste. E dançamos essa dança maluca todos os dias.

E eu, pensando nas praticidades liguei e organizei nossa segunda-feira, desmarcando compromissos, buscando substitutos para nós, pelo menos no trabalho. Os próximos dias seriam de ausência de nós mesmos.

O quarto estava preparado para receber seu pai. Sabíamos que seriam suas últimas horas mas era como se não soubéssemos. Conversávamos os quatro, eu, você, sua mãe e seu irmão. Ficamos ali aguardando, aguardando... Então fui saber o que estava acontecendo. Porque seu pai não saia do CTI para o quarto? E vocês, na esperança de que era só um atraso burocrático e eu, na praticidade fui atrás de informações.
Então, após a notícia de que ele não viria e que nós deveríamos ir até ele começou o domingo do CTI, da despedida do turbilhão da sua dor. Digo sua dor, seu luto porque é tudo seu. É meu somente na parte do quanto te amo.

Foi um domingo longo, de choro, tristeza, fome, despedidas. E quando senti que era a hora, consegui abrir minha alma à escuta e seu pai se foi perto de você e de sua mãe.

As horas seguintes já haviam sido organizadas por mim de alguma maneira. Eu ia resolvendo as pequenas pendências ainda existentes de funerária, local, procedimentos, declarações... E assumi um lugar que de novo nem sei se era meu. Mas naquele momento, ao olhar para vocês, e ver o quanto estavam todos órfãos, completamente sozinhos e juntos, o lugar vazio da pessoa que toma as providências práticas me pareceu acolhedor. E eu aceitei.

E apoiei essa família que me acolheu há tantos anos atrás da forma que melhor pude. Estive ao lado, balancei a cabeça para os funcionários assinalando a horar de fechar e descer o caixão. Providenciei as velas, a comida, abracei as pessoas... Quase não chorei.

E tenho desde então, assistido à sua luta interna para conseguir vencer essa falta. E tenho me sentido sozinha. Não é fácil passar um luto eu sei. Fico olhando para você, nas madrugadas ou durante todos estes dias, escrevendo o seu livro. O livro sobre seu pai, sua mãe, sua família, sua origem.

Mas como faz parte de mim, procurar um porque das coisas, penso que o porquê disso tudo seja o que faço agora e que sempre gostei de fazer: escrever!

Então é esse o primeiro texto, que nasce deste momento de solidão, da nossa solidão a dois, em que nasce um livro de suas mãos e um espaço de escrita das minhas.

É o que consigo dizer hoje. E amanhã é outro dia!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Embora triste, o texto é incrível, Chlóe!
E acho que vc fez tudo que podia e muito bem feito!
É um momento muito triste e de dor... mas o tempo se encarrega de ajudar a todos! ELE, o TEMPO, sempre ele!
Beijos e foquem bem!
Bibi

Dali disse...

Chloe, sinto muito por sua perda, pelo luto e pela ausência que segue a perda de um ente querido.
Quando meu irmão faleceu, escrevi um livro tambem, pois estava começando a esquecer as coisas relacionadas a ele. A dor da perda os bloqueia memórias e muitas até hoje eu não recuperei.
Escrevi o livro, lancei, distribui. Não foi à altura de quem ele foi. Não chegou aos pés. Mas era o que eu tinha capacidade de fazer no momento, em meio a dor que me estraçalhava.
É ótimo que vcs escrevam um livro. Gostaria de lê-lo um dia. Seu texto, lindo e triste, é um início digno da pessoa homenageada.
Bjs, força, coragem, fé.
Dalila

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